Macua

O Nome é Macua porque eu nasci no coração do território dos Macuas, uma das maiores e mais antigas tribos africanas, residente no actual território de Moçambique. Este Blog não pretende ser um blog sobre usos e costumes de Macuas e outras tribos africanas, é apenas um local onde tomarei notas, farei registos, comentarei factos que de alguma forma mexem comigo. Assim, o nome deste blog, mais não é que uma pequena homenagem a essa gente que admiro.

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Nome:
Localização: Rockville, Maryland, United States

Caso se dê ao trabalho de rolar o blog até ao final, encontrará um grupo com os resultados de alguns testes (25), que, segundo os autores, revelam quem sou. Aproveite para fazê-los e conhecer-se um pouco melhor também. Divirta-se. (Esta secção está disponível apenas em Inglês e por isso as minhas sinceras desculpas.)

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terça-feira, setembro 20, 2005

Noite de futebol

Saiu de casa depois de jantar. Meteu-se no carro e dirigiu-se ao encontro de um velho amigo para verem juntos o jogo do Benfica na televisão.A culpada! Ele até nem era adepto de tal clube, mas, como há muito não se viam, seria uma boa ocasião para conversarem e beberem um copo enquanto matavam saudades. Foi, como combinado, chamá-lo a casa.
Saíram e dirigiram-se ao café mais próximo que, estranhamente, se encontrava praticamente vazio naquela sexta-feira. Sentaram-se, pediram uma cerveja e um pires de tremoços.
Enquanto esperavam, trocaram a habitual conversa de amigos que há muito não se vêm, perguntaram-se se estava tudo bem, se tudo em ordem com as famílias, com os empregos, etc.
Chegam as cervejas. Chegam os tremoços. Na televisão, o comentador, anuncia já a formação das equipas. O Assunto volta-se para a bola. Mau início de campeonato para a equipa do amigo, excelente para a sua, o que lhe deu motivos para algumas provocações. Apostas sobre a continuidade ou não do novo treinador Holandês.
Enfim começa o jogo. Conversam sobre a táctica. Se o Benfica devia jogar num esquema de 4x4x2, num 4x3x3, ou ainda, noutro qualquer. O jogo ia passando tremoço após tremoço, lento e chato. Parecia que a táctica adoptada tinha sido afinal a do todos-ao-molho-e-fé-em-Deus. Os copos vazios. Pede-se outra rodada. Chega o intervalo.
Mais conversa fiada, agora sobre gajas. Não podia deixar de ser. Dois portugas num café a ver a bola, aproveitam invariavelmente o intervalo para comentar as gajas. Nunca consegui entender, mas o facto é que o intervalo é dedicado às gajas. Deve ser para nos convencermos de que as gajas vão à bola connosco.
Recomeça o jogo. Pede-se outra rodada, e sim, com mais tremoço por gentileza.
Mais do mesmo. Jogo chato porque aquele gajo não é ponta-de-lança de raiz, o outro é trinco adaptado, e o central, um perna-de-pau. Nenhum deles tem noção muito clara de quais as funções específicas de cada uma destas posições, mas mencionam-nas com a naturalidade e a confiança de qualquer treinador de primeiro nível. Credibiliza-lhes a argumentação.
O jogo aproxima-se penosamente do fim com um empate sem golos. Pede-se a quarta e última rodada porque se faz tarde e ainda há que conduzir uns cinco quilómetros até casa.
Pagam a conta, fazem mais umas provocações aos respectivos clubes. Despedem-se. Mete-se no carro, coloca o cinto de segurança, o motor a trabalhar, mete a primeira e arranca.
Alto! "Boa noite! Os seus documentos e os da viatura por favor!". "O senhor ingeriu álcool?", "Sim, duas cervejas há três horas atrás", Nunca se conta toda a verdade a um polícia, por mais obvia que seja. Autoridade
O balão acusador denuncia: 0,64!
"Vai ter que acompanhar-me à esquadra para fazermos um contra-teste".
O contra-teste confirma a opinião do balão: 0,64 gramas de álcool por litro de sangue.
"Conhece o novo código? É assim: A coima é de duzentos e cinquenta euros, e, se você não quiser pagar, apreendo-lhe os documentos. Sim, os seus e os da viatura! Mas se pagar já, eu dou-lhe o recibo da coima e devolvo-lhe os documentos."
Pagou. Recebeu os documentos e o recibo. Meteu-se no carro, colocou o cinto de segurança, o motor a funcionar, engatou a primeira e partiu para casa.
Subitamente sentiu-se possuído por uma certa inquietação. E se aparece outra brigada de trânsito? Por aí não há problema, decidiu. Tenho o recibo da multa, por isso, não vão autuar-me de novo. Felicitou-se pelo sistema. Pagara, é certo, mas obtivera um salvo-conduto para conduzir com uns copos a mais. Resolve por isso ir ainda beber um último copo junto ao mar da Costa da Caparica.
Relaxa por momentos, mas a inquietação volta.
Não se sente bêbado. Na realidade sente-se até bastante bem, lúcido e concentrado. Mas o balão acusara-o. O balão dissera que estava com 0.14 acima do permitido por lei. Então, segundo a lei, ele estava bêbado. Isso era um facto! Podia ser comprovado com o recibo da multa que repousava na carteira, por isso, decide que o melhor era dirigir-se directamente para casa.
Tenta relaxar-se mas a inquietação apoderara-se de vez dos seus pensamentos.
E se, por qualquer acaso ou má sorte, se envolve num acidente e morre alguém? De quem é a culpa? Sua que estava bêbado e se permitiu conduzir?! Do polícia que o autuara, lhe devolvera os documentos e o mandara seguir viagem?! Do legislador que produzira o novo código?! Sentia-se agora demasiado bêbado para poder ajuizar, mas decidiu que sua, a culpa não seria, afinal, segundo a opinião do balão delator, confirmada pelo contra-teste, atestada pelo recibo da coima, e ratificada pelo agente da lei, ele estava bêbado, logo, incapacitado perante a lei, para julgar se estaria em condições de conduzir.
Acalmou-se de imediato. Louvou novamente o sistema que finalmente protegia um cidadão cumpridor como ele, e conduziu calmamente até casa.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Eu Vi!

Eu Vi!
Eu vi!
Sim eu vi com este olhos que a terra há-de comer.
Ninguém me contou, e o que te digo é em primeira boca. Não distorcido ou deturpado por cada boca por onde passou. Sim! Distorcido e deturpado, ou não sabes que as histórias tendem a ser distorcidas pelas bocas que as contam, como se lhes ficasse impregnado o hálito de cada uma?
Acredita no que te digo! Vale a pena procurar, não desistir nunca, porque se há-de descobrir.
Eu vi!
Vi a ilha dos amores! Ela existe de facto! Não apenas na poesia de Camões.
Eu vi!
Vi o fogo arder sem se ver e a ferida doer sem se sentir. Vi o contentamento descontente, senti a dor desatinar sem doer.
Não! Não procurei. Antes menoscabei. Vagueei por vales e montes, naveguei mares e oceanos mais descrente a cada milha. Conheci gentes, países e culturas. Então, um dia, naufraguei na ilha do teu amor.
Deste-te, submeteste-te, escravizaste-te, sem nada esperar mas apenas o querer dar. Acolheste-me no mar calmo do teu olhar, na tranquilidade do teu ser. Deste-me tudo o que pudesse querer ainda que o não soubesse desejar.
Mostraste-me como era amar e que era ali terminada a busca do que não buscava mas de que não podia abdicar.
Regressei vazio por te deixar, sofrendo por te amar e não te ter, inda que sabendo ser esse o teu querer.
Sinto de ti a falta e do aconchego do teu regaço!
Sinto que não mais sinto o bem que me fazes sentir.
Quero ver-te sempre sorrir e sentir no peito o teu abraço.
Segura-me pela mão, não voltes a deixar-me partir...
Porque eu Vi!

quinta-feira, setembro 01, 2005

O Circo Chegou á Cidade

O clima era de euforia e festa, jamais o esquecerei.
Chegavam sem avisar e de pronto a excitação se instalava nas nossas pacatas vidas.
Ele eram as tendas, os artistas, ursos, malabaristas e palhaços!
"Entrai que não custa nada, à saída é que se paga!" berravam gigantones e pernilongos com as vozes distorcidas pelos rudimentares amplificadores de som. A tenda
Enchíamo-nos de excitação e expectativa perante os prometidos fenómenos e proezas. Mal contínhamos a ansiedade de ver o espectáculo começar.
A nossa rotina alterava-se. Deixávamos de ir directos para a piscina do clube após a missa de domingo para irmos ver se o circo estava montado e o show pronto a mostrar-se.
Espreitávamos as carruagens dos artistas, e maravilhávamo-nos com as jaulas das bestas, as gaiolas com aves raras, os músculos do homem mais forte do universo e até com a pequenez dos anões.
Fingíamos não perceber o brilho das lantejoulas empalidecido por remendos mal amanhados nas belas roupas festivas das deslumbrantes assistentes na pista.
Queríamos circo, queríamos festa, queríamos deslumbrar-nos com as anunciadas façanhas.
Até que era enfim chegado o grande momento.
Acendiam-se a luzes, berrava a música, rufavam tambores e começava a festa!
Desfilavam os cavalos, exibiam-se ursos e leões. Malabaristas, trapezistas e pavões. Pasmem-se! Até mesmo, polícias e ladrões!
Ave Rara!Esvoaçavam as aves raras exibindo as suas coloridas plumas.
Troavam as palmas, estalavam pipocas e voavam balões.
Rebentava a gargalhada fácil no grande e aguardado momento da exibição dos palhaços! Músico era o palhaço rico. O outro um pobre palhaço!
As horas iam passando e quase imperceptivelmente começava o cansaço a apoderar-se de nós e a tomar-nos conta do corpo e da alma.
Quando o espectáculo terminava íamos saindo, com um sorriso forçado, obrigando-nos a não revelar um certo desapontamento. Não o admitíamos nem ao mais cúmplice dos amigos, mas a verdade é que todos nós sentíamos um misto de alegria pela rotina quebrada, e um certo desapontamento de termos visto uma repetição do circo do ano anterior. Talvez até com os mesmos artistas, as mesmas bestas, palhaços, pavões, polícias e ladrões.
Sentíamo-nos obrigados a afirmar que tinha sido o melhor de sempre. Não aceitávamos que toda a excitação e expectativa se esfumasse num "dejá vú", num "replay" do que víamos como espectáculo de circo ano após ano.
Afirmávamos uns aos outros que no ano seguinte não faltaríamos. Lá estaríamos de novo para o maior espectáculo do mundo.
Levantada a tenda, voltávamos às nossas rotinas. Escola pela manhã, estudo em casa pela tarde. Ao domingo depois da missa encontrávamo-nos na piscina do clube. Tudo voltava a ser como sempre fora.
... ... ...
Estou agora a lembrar-me que deverei levar amanhã o meu filho a ver o início da campanha eleitoral para a Presidência da República. Ele também sente a excitação da festa! A sua rotina também será quebrada por uns dias!