Desabafo de Mulher
No princípio era como no paraíso!
Ele era culto, inteligente e perspicaz. Um pouco desligado dos pormenores, é certo, mas sagaz e atento às coisas importantes da vida.
Amante generoso, na forma e na intensidade como dava e extraía prazer da carne dos seus corpos. Incansável, baixo, animal, sem escrúpulos ou preconceitos. Sublimes e intensos, eram os orgasmos que nela desencadeava.
Simpático, atencioso, prestável, educado e carinhoso.
Tinha, é certo, como todos os homens, os seus defeitos, o que era até natural e lhe dava um pouco de sal.
Havia momentos em que se tornava demasiado aborrecido. Sobretudo quando queria explicar o seu modo de ver as coisas. Achava ele que os seus pontos de vista tinham que ser plenamente entendidos e não aceitava que concordassem ou discordassem deles enquanto os não sentia realmente compreendidos.
Por isso, as suas explicações tornaram-se sempre, sempre, sempre aborrecidas, e chatas.
Dizia coisas estúpidas, e isso irritava-a a ponto de até a sua voz e o seu sotaque, que nela tanto efeito haviam tido, se tornarem irritantes e insuportáveis.
Chegava mesmo a preferir consumir o seu tempo na cozinha controlando a cozedura do macarrão a falar com ele numa qualquer ligação de longa distância que servia apenas para deixá-la com aquele sentimento de vazio mais agudizado.
E no entanto.... quando o assunto era sexo... aaaahhhh como ele brilhava! Voltava a ser o mesmo atraente e desejável macho que sempre fora. A sua voz parecia música, as palavras ganhavam uma dimensão que só ele lhes sabia dar. A mais baixa e ordinária frase soava a um misto de erótico polvilhado de romance e declaração de amor. Nunca conseguira entender como ele conseguia dar esse tom de pureza às mais obscenas e porcas palavras. Fazia-a sentir-se verdadeiramente fêmea. Fazia sentir-se Mulher com "M" maiúsculo.
Ultimamente já só se sentia bem com ele em assuntos de sexo.
Ou talvez não.
Agora que nisso pensava, realizava que com frequência, sentia também falta do carinho, das carícias, do olhar e do sorriso.... até de “conversa fiada” como ele costumava dizer, "aboborinhas" na sua versão.
Sentia que o amava e que a sua irritação e tristeza poderiam ser apenas resultantes da distância e dos longos períodos sem vê-lo, sem senti-lo sem tê-lo.
Sendo uma mulher atraente, pretendentes não lhe faltavam. Alguns, bem na vida, poderiam proporcionar-lhe a segurança que é tanto do apreço da maioria das mulheres. Sentira-se tentada, mas aquele homem habitava as mais inconfessáveis fantasias da sua alma.
Costumava sentir o seu íntimo como um lençol amassado por uma noite entregue aos prazeres da carne. Não adiantava passá-lo a ferro para disfarçar o amarrotado, ele estava impregnado, ele esvaíra-se, derramara-se e ensopara o lençol da sua alma com lembranças e aromas de êxtase, e de prazer.
No entanto sofria. Ele era um macho ausente que apenas a tempos via.
Mas quando presente... era a luz, fazia-a sentir-se mulher como jamais se sentia, via-a mais fêmea do que algum outro macho a pressentia.
Tinha-a prisioneira. Queria livrar-se dele, queria poder escolher um homem que estivesse sempre ao seu lado, que a ajudasse a fazer a vida, que partilhasse as decisões, as tristezas e alegrias, de quem cuidasse e em quem se abrigasse quando de protecção necessitasse. Precisava de um homem, de um companheiro, de apoio moral, fisico e até material.
Mas quando pensava nele, sentia um formigueiro entre as pernas. Sentia ensoparem-se-lhe as entranhas do rego entre elas, perante a memória da sua voz quente dizendo-lhe aquelas obscenidades românticas que a faziam sentir-se uma fêmea no cio, uma mulher!
E adorava sentir-se assim. Necessitava sentir-se assim.
Ahhh mas de quanta injustiça é feito o mundo! Porque não podia tê-lo sempre a seu lado?
Precisava dele. Precisava desesperadamente sentir-se tão mulher quanto ele a fazia sentir-se. Precisava sentir-lhe as carícias, o cheiro de macho, os gemidos de prazer, os fluidos quentes que se misturavam e libertavam aquele coquetel de aromas de orgia que a deixavam ébria de prazer e faziam o tempo parar dando-lhe aquela sensação de eterno à qual se abandonava e só ele lhe poderia dar.
Precisava sentir-se a fêmea tomada pelo seu macho, sentir a intensidade da primeira invasão. Senti-lo confiante dentro de si.
Depois, o êxtase da posse, obrigá-lo a debater-se, domá-lo com saber, obrigá-lo a render-se-lhe, e nela esvair-se em prazer.
Mostrar-se-lhe na pele da fêmea que ele a fazia ser.
Precisava adormecer exausta nos seus braços. Sentir-se protegida pelo macho que enquanto fêmea saciara.
Amava-o! Sim! Amava-o!
E por amor, suas ausências sofria.
E por amor, por ele esperava sem saber se ele sabia o quanto ela o amava.
1 Comments:
Linda descrição digna de alma macua. História bem retratada e fiel. Tão doce! Talvez o problema desse amor ser não pleno seja o facto de ele ser cssado...e amar outro alguém de coração. ....
Enviar um comentário
<< Home